A fúria do corpo na contramão do fluxo: a prosa de João Gilberto Noll, de Adrianna Meneguelli, é um tipo de escrita ensaística que, mesmo cercada de todo rigor acadêmico, não se furta a flertar com a natureza artística e movente do objeto em estudo. Saltam aos olhos do leitor de João Gilberto Noll a fluidez verbal do seu fraseado e a assombrosa capacidade do autor de extrair imagens pungentes de cenas banais que passariam despercebidas a um olhar desatento aos detalhes ínfimos que as compõem.
A literatura de João Gilberto Noll produz uma espécie de encantamento e faz o leitor mergulhar inteiramente na atmosfera dos seus contos e romances, dando a sensação de ser ele mesmo um dos personagens da trama. Esse potente efeito de linguagem, além de arrastar consigo o leitor mais desarmado, é capaz também de influenciar leitores críticos como Adrianna, que, munida, de um arsenal teórico bastante amplo e atualizado, perambula pelos vãos e desvãos da prosa de Noll, produzindo um ensaio interpretativo aberto a errâncias e devires, sem fechar questões; porém, configurando espaços em que o sentido das obras se deixa entrever.
Com elegância e profundidade, Adrianna Meneguelli viaja pelo universo do seu autor e, ao mesmo tempo, passeia pelos caminhos da teoria que ela mesma vai tecendo ao alinhavar tantos referenciais teóricos fundamentais para o entendimento dos problemas vinculados à modernidade e à contemporaneidade. Não pense o distinto leitor que a ensaísta tenha, em algum momento, tentado imitar o estilo literário de Noll. A afinidade se dá, precipuamente, pela disposição de ambos em reconstruir (no caso dela, de forma não-mimética), através do dinamismo da linguagem, a dramática existência do homem atual, com seus entraves e possibilidades, tão bem retratados pelo escritor gaúcho.
Raimundo Carvalho
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