Cem palavras

Poeta, letrista e ciclista, Gilson Soares tem destacada atuação em diversas frentes. A conjugação de suas atividades não só produz trabalhos artísticos, mas resulta ainda em um ativismo que atravessa o cultural, o político e o ambiental, atuação que não se pode supor quando se tem diante de si alguém com a discrição pessoal do escritor. Sua economia de palavras no convívio pode ser a explicação para a extraordinária capacidade de condensar tanto significado nos textos de não mais (nem menos) que uma centena de palavras, publicados semanalmente nos últimos anos.

A gama de assuntos que estiveram presentes na coluna Cem palavras revela um pouco desse artista não só da palavra, mas também da ação. Gilson percorreu de bicicleta as margens dos rios Doce e São Francisco, carregando consigo a poesia de seus livros, os quais procurava deixar por onde quer que passasse. E, por outro lado, trazia na volta experiências que depois se refletiriam em seus escritos. A firmeza no propósito de falar de coisas simples guia esse poeta atento a tudo, resultando em uma obra coesa e rica. Sua coluna trouxe sempre uma grande variação no tema e na forma de apresentação dos textos. O gosto pela música popular brasileira se revela nas referências de um profundo conhecedor do assunto, bem como por composições autorais, área que já rendeu ao poeta-letrista algumas premiações. O posicionamento político inabalável, o afeto pelos que lhes são próximos e a solidariedade inarredável também comparecem nos cem textos selecionados que formam o livro homônimo da coluna.

Não é um trabalho profícuo tentar resumir o tanto que há no que Fernando Achiamé classificou em seu prefácio como Muito mais do que dez mil palavras. Para maior proveito do leitor, o melhor a fazer é mergulhar na obra desse autor discretamente inquieto.