Minério

A segunda edição de Minério celebra um ciclo que se fechou na carreira do escritor Gilson Soares. No prefácio original, mantido nessa edição, o autor se refere à trilogia autobiográfica encerrada com a obra agora reeditada. Trata-se de uma sensação que faz muito sentido.

Gilson concluiu com Minério uma sólida apresentação de sua poesia, com a segurança de quem tem plena consciência do projeto que está executando, um projeto esmiuçado em artigo de Lucas dos Passos por ocasião do lançamento da antologia 55, um livro que seleciona poemas da aludida trilogia. O método, por assim dizer, de Gilson está muito bem evidenciado ali. Há, entre outros elementos, uma sutil ironia, voltada sobretudo para o próprio poeta e o seu fazer poético, uma das marcas da literatura concisa de um autor que persegue obsessivamente a precisão e a simplicidade. Daí talvez venha o gosto pelos números, mais uma de suas obsessões, demonstrada não só pelo título da coletânea 55, mas também abordada jocosamente em seu prefácio, estando expressa ainda com mais vigor em seus textos de cem palavras, produzidos inicialmente como uma forma de brincadeira e transformados em uma série publicada semanalmente.

Para o bem da literatura brasileira, rever Minério é voltar a um texto cujo valor permanece intacto. A obra exemplifica bem a exatidão de uma poesia que parece simples, mas que envolve e surpreende o leitor com sua engenhosidade para descrever o mundo, integrando o que é essencialmente humano ao todo que o cerca. Empregando a metáfora que encerra o livro, pode-se dizer que o autor usa com dissimulada perícia o poder da linguagem para transmutar o minério duro e frio na própria poeira do tempo.